quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ENTULHO

lisieux

No entulho as rimas se escondem
não posso achá-las
o lixo as encoberta
e fico apenas a sonhar poemas
olhar parado
e a boca aberta...

o canto do canário
não é poema:
é milagre.

BH - 08.09.07

terça-feira, 26 de agosto de 2008

ENVELHECER
lisieux


Antigamente corria mil caminhos
pisando sem temor pedras e espinhos,
sem me importar aonde eles chegavam

e penetrava todos os lugares
abrindo portas, conhecendo cômodos,
olhar de pura curiosidade...

Hoje os caminhos dão no mesmo pátio
todas as portas não se abrem mais
emperradas dobradiças, fechaduras...

E mesmo sendo acolhedora a sala
cheia de livros e de discos roucos
não tem mais jeito: não me sinto em casa...

Queria ter de volta os dias loucos
passar batentes, refazer as malas,
a fim de percorrer outros caminhos...

em vez de me perder nos corredores
em vez de apodrecer
junto aos fantasmas...

BH - 2008

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

ESPANTANDO A SAUDADE

lisieux

MOTE: (Machado)
Fecho portas e janelas
Não deixo a saudade entrar
Não quero nada com ela
Hoje só quero é sonhar!

GLOSA: (lisieux)

Fecho portas e janelas
e me escondo no meu quarto
largo deveres, panelas,
fujo e num sonho me aparto.

Com cuidado, tampo as gretas,
não deixo a saudade entrar.
Fecho armários e gavetas
para não me machucar...

Vejo a vida numa tela,
e a saudade é uma atriz,
não quero nada com ela,
só pretendo é ser feliz!

Com a dor do meu passado
não quero mais me encontrar...
Mesmo sem ter-te ao meu lado
hoje só quero é sonhar!

BH - 02.11.07

domingo, 24 de agosto de 2008

ESPELHO, ESPELHO MEU

lisieux

Eu me pergunto se sou mesmo eu
ao olhar-me no espelho do banheiro
ou quando canto triste, no chuveiro
lembrando aquele sonho que morreu.

Quero saber quem é esta mulher
de olhar vazio e boca descaída,
que já não tem mais gosto pela vida,
que já não canta nem sorri jamais...

Se não sou eu, pergunto-me: quem é?
E se sou eu,
não me conheço mais...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

PRIMAVERA
lisieux

Mote (Arlene Lima) e glosa (lisieux)

Primavera, enfim chegaste!
Acabou-se a minha espera...
Folhas em flores mudaste,
não és mais uma quimera.

O solo seco pintaste,
no chão espalhando cores,
e nos galhos penduraste
frutos de doces sabores.

O ar todo perfumaste
de variados odores,
verdes ramos enfeitaste
com muitas e lindas flores.

E por fim, tu convidaste
muitos pássaros cantores...
sons pelo ar espalhaste
enchendo as aves de amores.

BH – 20.08.08

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

FUNERAL

lisieux

Enterra-me, amado
ao pé da serra
juntinho das hortênsias azuladas
sob o céu também azul do Rio Grande

Cuida pra que eu fique, descansando
na direção em que o vento for soprando
a me levar os perfumes dos caminhos
e os barulhos do cotidiano

Como o perfume do teu corpo
doce e fresco
e o da natureza à minha volta,
das videiras carregadas, temporãs...
E o som das águas,
mesmo que baixinho,
vindo lá das bandas do Guaíba
e que embala o nascimento das manhãs.

Cuida também para que sinta o toque
do vento frio que vem da campina
e a lambida morna, preguiçosa
do sol de inverno a furar neblina

Cuida que eu fique plantada ali nos pagos
não me perder nos horizontes vagos
reconhecendo as vozes das coxias

Não faças com minh’alma a covardia
de ficar longe da querência amada,
pra sempre presa nos mineiros paços...

Pra que a alma sequiodsa não precise
de madrugada percorrer largos espaços...
e ao sentir saudade ela deslize
direto para o centro dos teus braços.

SBC – SP
21.08.07 – 20h49

terça-feira, 19 de agosto de 2008

FRAGÂNCIA

lisieux

Coleciono distantes luas
brilhos foscos de bijouteria
faiscantes raios
que perpassam a memória,
ressuscitam lembranças.

Maturadas, as canções se alastram...
Treme, no compasso, o corpo,
acordando as primaveras
E o perfume, longínqüo,
chega-me às narinas,
como se recém-saído
do frasco...

BH - 08.01.05
(republicando porque este poema saiu no "Pão e Poesia"! eba!)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

sábado, 16 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

CASCALHOS

lisieux

MOTE: Ademar Macedo - RN

...remexendo os cascalhos da lembrança
encontrei uma mina de saudade;
cada pedra que calça esta cidade
tem um rastro que fiz quando criança.(Ademar Macedo)


GLOSA: lisieux

Remexendo os cascalhos da lembrança
encontrei tanta coisa misturada
remeti-me àquele tempo de bonança
em que a vida parecia sossegada.

Tinha de tudo um pouco no monturo...
encontrei uma mina de saudade;
e pintei um quadro vago, obscuro,
das cenas da minha mais tenra idade.


Em mim morava a tal felicidade...
através do meu sorriso, era notória.
Cada pedra que calça essa cidade,
contava parte desta minha história.

E depois de relembrar, segui contente...
vivendo a vida em fé e confiança.
Pois sei que a minha estrada do presente
tem um rastro que eu fiz quando criança.

BH – 10.11.07
(republicando, porque o Ademar leu o poema acima no rádio... tô ficando chic...)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

domingo, 10 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

HORAS VIVAS

lisieux
Varal - 26 - 2008

Vivas são todas as horas em que durmo
e sonho com teus braços, teu sorriso...
E mortas são as horas de agonia
em que não tenho teu olhar, de que preciso...
Vivas são todas as horas em que sonho...
E nas quais versos de amor então componho
pra resistir às horas mortas do meu dia.

lisieux - BH
10.06.08

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

terça-feira, 5 de agosto de 2008

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ILHA
lisieux

À superfície
das lágrimas,
camada de cortiça
bóia
esconde
(des)afetos...

Nos porões da alma,
- sobrevivente -
venho
à tona.

BH - 24.05.05
04h01m

domingo, 3 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

PRISIONEIRA

lisieux

Infelizmente, amado, essa mulher
tem muros sim, e eles são medonhos...
embora ela cavalgue, quando quer,
por entre nuvens, no corcel dos sonhos.

Sempre que solta as rédeas do seu verso
o seu desejo ela vai derramando
e ela só pára o seu galope quando
novo poema surge, assim disperso

como os seus pensamentos mais profanos...
E ela reza, um credo de esperança,
volta seus passos, torna a ser criança
e busca ser igual a outros humanos...

Mas ela sabe: não é desse mundo
o sentimento que ela traz no peito
e que jamais encontrará um jeito
de esquecer o seu amor profundo...

Então se cerca novamente... e os muros
erguem-se altos, solitários, duros
e ela morre, no jardim sem flores
sem poesia ou sonhos... sem amores.